10 perguntas e respostas sobre a Dor Muscular Tardia

Publicado por Leonardo Dias em

Quem nunca se sentiu dolorido após uma sessão de exercícios ou nova atividade esportiva? A Dor Muscular Tardia é uma condição extremamente comum que apresenta uma grande quantidade de questões ainda sem respostas. Dessa maneira, este é um dos tópicos mais populares entre os praticantes de atividade física, e mesmo entre os profissionais da área de saúde. Por isso, trouxemos 10 perguntas e respostas sobre a Dor Muscular Tardia respondidas pelo fisioterapeuta Leonardo Dias da equipe do Fisio na Pauta.

 

1 – O que é a Dor Muscular Tardia?

A Dor Muscular Tardia (do inglês “Delayed Onset Muscle Soreness” – DOMS) é uma condição comum que afeta grande parte dos praticantes de atividade física. Ela é caracterizada por uma sensação dolorosa progressiva e limitante, geralmente combinada com rigidez, que acomete a musculatura específica após uma atividade física intensa ou que não estamos acostumados.

 

2 – Como a Dor Muscular Tardia ocorre e quais os sintomas mais comuns?

A DOMS ocorre, na maioria das vezes, em situações em que o músculo recebe um aumento rápido de carga, grande quantidade e variação de amplitude de movimento (ADM) e grande quantidade de repetições de exercícios com característica de contração excêntrica (que é quando o músculo se alonga durante a contração muscular). Esse tipo de situação é comum em pessoas que iniciaram uma rotina de exercícios na academia, atletas que estão em fase de pré-temporada após um intervalo, ou até mesmo com a prática de uma atividade atípica como descer alguns andares pela escada.

 

Os sintomas vão desde uma leve sensação dolorosa na musculatura até uma incapacidade funcional aguda. Além da dor, outros sintomas comuns são: rigidez muscular, queda de força e potência, limitação dos movimentos, e aumento da temperatura local. O pico dos sintomas ocorre entre 24 e 72 horas após o exercício e os sintomas desaparecem espontaneamente após 5 a 7 dias em média.

 

3 – Como são os mecanismos fisiológicos da DOMS?

Ainda não se sabe os mecanismos exatos de como a DOMS ocorre e, segundo Udani K Jay e col. (2009), também não podemos descrever a Dor Muscular Tardia como uma doença ou desordem. O que existe na literatura científica são hipóteses, as quais foram testadas nos anos 60, com os trabalhos de De Vries e continuam até hoje sem um consenso. Essas teorias são baseadas em conceitos de sobrecarga metabólica, mecânica e neurofisiológicas. A teoria mais aceita hoje em dia é a “hiperalgesia muscular mecânica”, em que a carga mecânica faz com que haja um microtrauma no tecido contrátil em uma escala muito pequena, desencadeando uma resposta local com característica inflamatória aguda. Porém, outras pesquisas demonstraram não haver microlesão ou inflamação suficientes para produzir as características da DOMS, e, ainda, estudos mais recentes discutem a influência de fatores neurotróficos (ex: NGF e GDNF) como os possíveis responsáveis. Outras linhas seguem características referentes ao metabolismo, alterações bioquímicas, mediadores inflamatórios e outros marcadores celulares de dor. Recentemente, foram levantadas outras possíveis explicações apontando para uma variação do cálcio sarcoplasmático, que poderia, por fim, causar danos na musculatura e a resposta intensa seria influenciada neurofisiologicamente como um mecanismo de defesa do corpo.

 

4 – E o ácido lático, é verdade que ele poderia ser um dos causadores da DOMS?

A teoria do ácido lático ainda é popular, mas a literatura demonstra que não existe a relação com a DOMS. Sabemos que o ácido lático vem sendo considerado, erroneamente, o vilão de muitas condições relacionadas ao exercício, como cãibras e DOMS. Entretanto, o ácido lático é um bioproduto do metabolismo celular e é metabolizado pelo organismo em menos de 1 hora. Ou seja, ácido lático é uma produção normal e não fica no organismo tempo suficiente para causar DOMS.

 

5 – Dor muscular tardia é um sinal de que fizemos um bom treino de força?

Não, este é outro mito que ouvimos, normalmente dentro de academias, e que também não faz muito sentido. Já sabemos que a DOMS é o resultado de movimentos, cargas e ADMs fora da rotina, o que difere de eficiência de treinamento. Um maratonista por exemplo, após concluir a prova ficará com DOMS por um bom tempo, mesmo sendo um tipo de atividade que não há propriamente hipertrofia envolvida. A DOMS diminui conforme a pessoa repete o mesmo tipo de atividade, ou seja, nos adaptamos.

 

6 – É possível iniciar uma rotina de exercícios sem sofrer os efeitos da DOMS?

Sim, é possível prevenir os efeitos da DOMS com o aumento progressivo e controlado de exercícios, carga e ADM, evitando excesso de exercícios excêntricos no início dos treinamentos de pessoas destreinadas (mesmo atletas que estão voltando de férias), mantendo bons níveis de hidratação, visto que pessoas desidratadas podem sofrer intensidades maiores de DOMS, intervalo de descanso entre as sessões, ou seja, um bom planejamento do treino.

 

7 – Gelo ou banho de imersão em água gelada diminui a DOMS?

Apesar de ser outro método popular, as pesquisas demonstram que a água gelada parece ser melhor que a água quente, porém, em relação à DOMS, os resultados parecem ser pequenos ou nulos.

 

8 – Os alongamentos e massagem podem reduzir a DOMS?

Aparentemente, também não. Apesar da grande maioria dos estudos apresentarem baixa qualidade ou número baixo de amostra, uma revisão sistemática que incluiu 12 estudos randomizados e controlados apontou que o alongamento estático apresentou pouco ou nenhum efeito sobre a DOMS. Em nosso podcast, episódio 004, falamos sobre alongamento e DOMS.

 

Com relação à massagem terapêutica observamos respostas semelhantes. Uma revisão sistemática de E Ernst (1998), que incluiu 7 estudos sobre o tema, demonstrou que a massagem não apresenta resultados efetivos na melhora da DOMS e, dependendo da técnica utilizada, (basicamente massagem mais vigorosa), os sintomas podem se agravar. Essa mesma resposta vem sendo confirmada em estudos mais recentes.

 

9 – Anti-inflamatórios e suplementos podem minimizar os efeitos da DOMS?

Dentro da farmacologia, o uso de drogas apresenta resultados variados e algumas delas parecem reduzir levemente a sensação de dor. Porém, não há efeitos na melhora da função motora. Como esse não é o escopo do Fisio na Pauta, sugerimos consultar um especialista da área.

 

Com relação à suplementos alimentares, existem alguns estudos com a utilização de cafeína, taurina, cúrcuma e enzimas, mas a quantidade de estudos ainda é pequena e muitos são de baixa qualidade. Por isso, salientamos que se faz necessária a consulta com um profissional qualificado da área.

 

10 – Existe algum método eficiente para evitar os efeitos da DOMS? Como a fisioterapia pode ajudar?

Existem várias especulações sobre possíveis tratamentos. A maioria baseia-se em mudanças de temperatura (frio ou calor), alongamentos, técnicas de liberação miofascial e massagens, manipulações, vibrações, compressão muscular, ultrassom terapêutico e, até mesmo, a câmera hiperbárica. Apesar de algumas modalidades se mostrarem promissoras em um primeiro momento, quando analisamos com maior critério ou comparamos com estudos de melhor qualidade, identificamos pouca ou nenhuma evidência para frio, calor, contraste quente-frio, massagem, acupuntura, compressão e eletroterapia (US, TENS, corrente interferencial).

 

O que sabemos até agora é que, quando se trata de Dor Muscular Tardia, ficar parado parece ser pior do que fazer uma atividade física leve e, mesmo que dolorido, a atividade física leve tende a ser melhor do que o repouso total. Essa atividade é denominada “recuperação ativa”.

 

Comumente dizemos que DOMS se combate com DOMS, ou seja, adaptação às respostas do organismo ao praticar atividade física. A falta de compreensão de todos os mecanismos da Dor Muscular Tardia limita a identificação da melhor forma de combatê-la ou preveni-la. Apesar de não existir nenhuma modalidade que ofereça um resultado realmente efetivo para evitar a DOMS, a melhor recomendação, até o momento, é a realização de uma atividade física leve, normalmente aeróbica, como, por exemplo, uma caminhada. Por isso, salientamos a importância de uma programação de exercícios que leve em consideração a prevenção e o controle da Dor Muscular Tardia.

 

Leonardo Dias

Equipe Fisio na Pauta

 

 

Referências Bibliográficas:

 

Cheung K1Hume PMaxwell L. Delayed onset muscle soreness : treatment strategies and performance factors. Sports Med. 2003;33(2):145-64.

 

Close GL, Ashton T, Cable T, et al. Eccentric exercise, isokinetic muscle torque and delayed onset muscle soreness: the role of reactive oxygen species. Eur J Appl Physiol. 2004

 

E Ernst Does post-exercise massage treatment reduce delayed onset muscle soreness? A systematic review Br. J. Sports Med. 1998;32;212-214

 

Gulick DT, Kimura IF. Delayed onset muscle soreness: what is it and how do we treat it? J Sport Rehab 1996; 5: 234-43

 

Herbert RD1de Noronha M. Stretching to prevent or reduce muscle soreness after exercise. Cochrane Database Syst Rev. 2007 Oct 17;(4):CD004577

 

Schoenfeld BJ. Does exercise-induced muscle damage play a role in skeletal muscle hypertrophy? J Strength Cond Res 26: 1441–1453, 2012.

 

Malm C, Sjodin TL, Sjoberg B, et alLeukocytes, cytokines, growth factors and hormones in human skeletal muscle and blood after uphill or downhill running. J Physiol. 2004

 

Mizumura K, Taguchi T. Delayed onset muscle soreness: Involvement of neurotrophic factors. J Physiol Sci. 2016 

 

Safran MR, Seaber AV, Garrett JWE. Warm-up and muscular injury prevention, an update. Sports Med 1989; 8 (4): 239-49

 

Semark A, Noakes TD, Gibson SC, Lambert MI. The effect of a prophylactic dose of flurbiprofen on muscle soreness and sprinting performance in trained subjects. J Sports Sci. 1999 

 

Udani K Jay et al. BounceBackTM Capsules for reduction of DOMS after eccentric exercise: a randomized, double-blind, placebo-controlled, crossover pilot study.Journal of the international society of sports nutrition 2009, 6:14.

 

Yu JG, Carlsson L, Thornell LE. Evidence for myofibril remodeling as opposed to myofibril damage in human muscles with DOMS: an ultrastructural and immunoelectron microscopic study. Histochem Cell Biol. 2004

 

Zainal Zainuddin, Mike Newton, Paul Sacco, Kazunori Nosaka Effects of Massage on Delayed-Onset Muscle Soreness, Swelling, and Recovery of Muscle Function J Athl Train. 2005 Jul-Sep; 40(3): 174–180.


11 comentários

CARLA MARIA QUANDT · 09/01/2018 às 09:07

Esclarecimento fantástico. Parabéns e obrigada!

Carla Maria Quandt

Sandro Viera · 19/08/2018 às 13:10

Obrigado pelas dicas aqui do site, pois são de muita importancia, porque ajuda o publico nesse assunto. Sempre pesquiso boas matéria e aqui vi isso e organização com certeza.

Sandra Capello · 27/08/2018 às 12:24

Muito boa as dicas mesmo. Sempre busco informações desse tipo para aprender e entender, porém a transparência como se beneficia dessas dicas e aplica mesmo é dificil encontrar como encontrei aqui.

Avides · 28/09/2018 às 01:51

Bem interessante os conteúdos do seu site/blog!!
Vou seguir, tem em ajudado bastante…

Débora · 17/11/2019 às 22:04

Esse Blog / Site realmente é muito bom e dá dicas ótimas. Muito Obrigado.

Andressa Lima · 23/02/2020 às 14:52

Oi aqui é a Andressa Lima, eu gostei muito do seu artigo, vou passar a acompanhar seu blog seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigada.

    Heric Lopes · 23/02/2020 às 22:13

    Oi Andressa,

    Fico feliz em saber que o conteúdo do canal vem lhe ajudando.

    Muito obrigado pelo comentário!

editor de video · 29/10/2020 às 11:15

Nossa gostei muito do seu artigo, vou acompanhar seu
blog seu conteúdo vem me ajudando
bastante, muito obrigado.

Bélit · 25/11/2020 às 11:41

Amei seu blog 🙂 Parabéns!!!

    Heric Lopes · 25/11/2020 às 12:43

    Muito obrigado! Fico feliz que gostou! 😉

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

20 + five =