O que está acontecendo na Fisioterapia?

Publicado por Heric Lopes em

A palavra “Fisioterapia” tem origem grega, combinando os termos physis (natureza) e therapeia (tratamento médico). Historicamente, a fisioterapia se aplicava através de elementos naturais (luz, água, eletricidade, etc) como forma de tratamento médico. Atualmente, a ciência aplicada ao tratamento fisioterapêutico têm evoluido e o foco principal é a assistência à promoção, recuperação e prevenção de riscos à função física.

 

A Fisioterapia é considerada uma das ciências da saúde e reabilitação – Health and Rehabilitation Sciences. Portanto, seus efeitos terapêuticos podem e devem ser explicados por hipóteses causais que podem ser refutadas de forma experimental, ou seja, através da metodologia científica.

 

A razão do uso das evidências científicas é simples: o ser humano diante do fisioterapeuta, chamado de paciente, apresenta-se fragilizado por conta de um sofrimento físico (e, muitas vezes, emocional), e precisa ser respeitado e tratado de acordo com normas rigorosas das ciências da saúde.

 

Com a influência da “medicina complementar e alternativa”, houve o surgimento de terapias que se fundamentam em pseudociências. De acordo com o filósofo Karl Popper, pseudociências são disciplinas que falham em apresentar evidências de seus efeitos através dos padrões rigorosos do método científico. Para Popper, as três principais ideias que diferenciam Ciência de Pseudociência são:

 

  1. Falsicabilidade empírica como forma adequada de demarcação cientifica;
  2. A ciência deve seguir um processo de conjectura (hipótese) e refutação;
  3. Cientistas devem apresentar vigilância crítica sobre as teorias já existentes.

 

Sendo assim, as teorias científicas são propostas através de hipóteses que podem ser substituídas por novas hipóteses quando são “falsificadas” (refutadas) ou corroboradas quando resistem aos testes destinados a falsificá-la. Contrariamente, as teorias em pseudociência são baseadas em crenças, observações e nos testemunhos de seus experts. Dessa forma, as pseudociências não são capazes de “falsificar” hipóteses através de um método e, consequentemente, não é possível a criação de teorias que as deem suporte.

 

Vejo cada vez mais fisioterapeutas abrindo mão de sua formação de base para se “especializarem” em pseudociências. Eles abrem mão de uma formação baseada em ciência por outra em pseudociência. Misturar pseudociência com ciência é, obviamente, um equívoco, perigoso e deve ser questionado.

 

Nessa “bagunça”, de um lado uns defendem a Fisioterapia como ciência e promovem a prática baseada nas evidências produzidas por ela. Do outro, aqueles que priorizam as falácias de gurus, minimizam a importância do que a ciência desmistifica e promovem terapias em que a confiabilidade e eficácia não são identificadas.

 

Enquanto ocorre essa discussão (necessária) sobre o que a Fisioterapia é (ou deveria ser), o paciente e os outros profissionais da área da saúde, do lado de fora assistindo, se perguntam:

 

O que é mesmo que a Fisioterapia faz?”

 

Heric Lopes

 

*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista dos colaboradores do Canal Fisio na Pauta – fisionapauta.com.br .

 

Referências:

  • Raper, S. (2017). Why good science is good business. Significance, 14(1), 38-41.
  • Popper, K. (2009). Science: Conjectures and refutations. The philosophy of science: an historical anthology, 471.
  • Kerry, R., Maddocks, M., Mumford, S. (2008). Philosophy of science and physiotherapy: An insight into practice. Physiotherapy Theory and Practice, 24(6):397–407.

 

Fotografia:

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